sábado, 4 de junho de 2016

Coração de Jesus, Abismo de Todas as Virtudes

Mostrou-me depois um rio de água viva, brilhante como cristal, que saía do trono de Deus e do Cordeiro. (Ap 22,1) 
Então a paz de Deus, que excede toda compreensão, guardará os vossos corações e pensamentos, em Cristo Jesus. Finalmente, irmãos, ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, nobre, puro, amável, honroso, virtuoso ou que de qualquer modo mereça louvor. O que aprendestes e herdastes, o que ouvistes e observastes em mim, isso praticai. Então o Deus da paz estará convosco. (Fl 4,7-9)
Meditação de São João Paulo II:
1. Sob o Coração de Maria, o Homem foi concebido. O Filho de Deus foi concebido como Homem. Para venerar o momento dessa concepção, isto é, o mistério da Encarnação, nós nos unimos na oração do Angelus Domini. 
À luz do momento da concepção, à luz do mistério da Encarnação, contemplamos a vida de Jesus, nascido de Maria. Seguindo as invocações da ladainha, procuramos descrever de alguma maneira essa vida a partir do interior, por meio do Coração 
.2. O Coração determina a profundidade das pessoas. E, em cada caso, indica a medida dessa profundidade, tanto na experiência interior de cada um de nós como na comunicação interpessoal. A profundidade de Jesus Cristo, indicada pela medida de seu Coração, é incomparável. Supera a de qualquer homem, porque não é somente humana, mas divina. 
3. Essa profundidade divino-humana do Coração de Jesus é a profundidade da virtude, de todas as virtudes. Como verdadeiro homem, Jesus expressa a linguagem interior de seu Coração por meio das virtudes. De fato, analisando seu modo de agir, podemos descobrir e identificar todas as vistudes, tais como historicamente surgem do conhecimento da moral humana, tanto as virtudes cardeais (prudência, justiça, coragem, temperança) como as outras que dessas dimanam. (Essas virtudes são possuídas no mais alto grau pelos santos e, sempre com a graça divina, pelos grandes gênios do "ethos" humano). 
4. A invocação da ladainha fala, de forma muito bela, de "abismo" das virtudes de Jesus. Esse abismo, essa profundidade sublinha o grau particular da perfeição de cada uma das virtudes e seu poder específico. Essa profundidade e esse poder provêm do amor. Quanto mais enraizadas estiverem no amor todas as virtudes, tanto maior será sua profundidade.Acrescento que, além do amor, também a humildade determina a profundidade da virtude. Jesus dizia: "Ponde-vos à minha escola, pois sou doce e humilde de coração" (Mt 11,29). 
5. Ao recitar o Angelus Domini, peçamos a Maria que nos aproxime cada vez mais do Coração de seu Filho, que nos coloque em sua escola, na escola de suas virtudes.(Angelus - 28 de julho de 1985)

Escreve o Padre Paschoal Rangel:
"Abismo" vem de "ábyssos" (grego), que significa "sem fundo". Quereria expressar melhor uma profundeza tamanha que não se pode sentir-lhe o fim. Mas não é um vazio sem fundo; é uma plenitude, onde as coisas se acumulam sem nunca transbordar. O salmista diz, por ex., que "os juízos de Deus são um imenso abismo" (Sl 36,7). Nos tempos genesíacos, "as trevas pairavam sobre a face do abismo", e esse "abismo" não era o vácuo, mas as águas tumultuosas que se agitavam ameaçadoras, sobre as quais "chocava" o Espírito de Deus, como se aquecesse as "sementes" de todas as coisas que iriam nascer sobre a terra ou debaixo do mar. 
Quando a Ladainha fala do Coração de Jesus como de um "abismo de todas as virtudes"... pretende exprimir: ele é um oceano donde brotam para a terra dos homens tudo o que há de bom; é dali que deriva a nossa força ("virtus, virtudis", em latim quer dizer exatamente "vigor", "força", "virtude"; uma força que, no cristianismo, que reconhece o dom de Deus, a graça e o sobrenatural, vem do Alto, que é simultaneamente o mais Fundo. Pois como diz São Paulo, precisamos compreender "a largueza, o comprimento, a altura e a profundidade (de Cristo): e conhecer a supereminente caridade da ciência de Cristo, para que sejamos repletos de toda a plenitude de Deus" (Ef 3, 18-19). 
A caridade e o amor de Cristo inundam sua sabedoria. Bendito seja esse Coração, cheio, cheíssimo de virtude e que está assim cheio para nós, em vista de nós. (RANGEL, 1993)


Notas:

RANGEL, Paschoal. Sagrado Coração de Homem. Belo Horizonte: O Lutados, 1993.

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