sábado, 4 de junho de 2016

Coração de Jesus, rico para todos os que vos invocam

De sorte que não há distinção entre judeu e grego, pois ele é Senhor de todos, rico para todos os que o invocam. (Rm 10,12)
Meditação de São João Paulo II:
1. Hoje nos recolhemos no oração do Angelus para recordar, ó Mãe de Cristo, o acontecimento que se desenrolou em Caná da Galiléia. 
Foi no início da atividade messiânica. Jesus fora convidado às núpcias, assim como tu e seus primeiros discípulos. E quando o vinho faltou, tu, Maria, disseste a Jesus: "Filho, eles não têm mais vinho" (Jo 2,3) 
Tu conhecias esse Coração. Sabias que ele é generoso para com os que o invocam.Por tua oração em Caná da Galiléia fizeste que o Coração de Jesus se revelasse em sua generosidade. 
2. Esse Coração é generoso porque nele reside a plenitude. Em Cristo, verdadeiro homem, reside a plenitude da divindade, e Deus é amor. É generoso porque ama - e amar quer dizer prodigalizar, doar. Significa ser dom, existir para os outros, ser para todos, ser para cada um - para cada um que clama, muitas vezes até sem palavras. Clama pelo fato de pôr a nu toda a sua verdade e, pela verdade, invoca o amor! 
A verdade possui a força de chamar o amor. Pela verdade, todos os que são "pobres de espírito" têm a força de chamar o amor. Todos os que têm "fome e sede de justiça" são também misericordiosos.Todos esses - e muitos outros ainda - possuem um "poder" maravilhoso sobre o amor. Fazem que o amor se comunique, se dê e manifeste, assim, a generosidade do coração. 
Entre todos esses, tu és, ó Maria, a primeira. 
3. Por meio dessa generosidade o amor não se esgota. Pelo contrário, se desenvolve. Cresce constantemente. Assim é a natureza misteriosa do amor. Assim também é o mistério do Coração de Jesus, que é generoso para com todos. Ele se abre para todos e para cada um. Abre-se espontaneamente. E nessa generosidade não se exaure. A generosidade do coração manifesta que o amor não está sujeito às leis da morte, mas às leis da ressurreição e da vida. 
O amor cresce pelo amor. Esta é sua natureza.(Angelus - 3 de agosto de 1986)

"Essa riqueza é abundância, opulência, transbordamento, magnificência que gera munificência, o dom generoso", explica o Padre Paschoal Rangel (1993).
... o Coração de Jesus é assim Rico em santidade e amor, em graça e gratuidade, está largamente aberto para todos que o invocam. A gente pode mesmo dizer que ele está aberto até para os que não o invocam. 
Para o hebreu dos tempos bíblicos, a magnanimidade era coisa dos poderosos, "os grandes do povo" (Nm 21,18), capazes de clemência (Os 14,5-6), de liberalidade (Sl 68,10; Pr 19,6), de coragem e empreendimento (Jz 5,2-9). Seria uma imitação do Deus grande, maior do que todos os grandes. 
Já São Paulo dizia aos Romanos (10,12s): "Não há diferença entre judeu e grego, porque Ele é o Senhor de todos, rico para todos que o invocam. De fato, o que invocar o nome do Senhor, será salvo". 
Há, porém, uma curiosa inversão de valores no cristianismo em relação à mentalidade semítica: enquanto o hebreu punha nas mãos dos ricos e "grandes do povo" a liberalidade e grandeza d'alma, São Paulo ensina que, sendo rico, Cristo se fez pobre por nós, "para nos enriquecer com sua pobreza" (2Cor 8,9). A pobreza terrestre, externa, é capaz de nos enriquecer. Pelo contrário, seu despojamento exterior, que o esvaziava de qualquer aparência de "grandeza" e "poder" sociológico a partir do material, conferia-lhe a Verdade do Ser total, a capacidade de ser Caminho sem desvios para a Vida. Essa pobreza é a única autêntica riqueza. Só ela pode enriquecer - essa despojada riqueza de Deus. 
São Lucas escreveu uma frase que pode passar despercebida no conjunto da parábola que ele conta no capítulo 12, 13-21. Depois de ter mostrado a ilusão do rico proprietário que acumulou riquezas só para si, egoisticamente, Lucas termina: "É assim quem entesoura para si mesmo, e não é rico de Deus", ou "em Deus", como traduzem alguns (Lc 12,21). Ser rico em Deus, ou segundo o espírito de Deus, não exclui, pelo contrário, atrai as bênçãos divinas. Problema é ter espírito de rico, com dinheiro saindo da alma por todos os poros. 
Pois bem, o Coração de Jesus é rico, sim, mas "em Deus". E por isso sua riqueza divina na pobreza  humana nos enriquece. Sobretudo se nós o invocarmos. Enriquece-nos de uma riqueza igual à dele, abençoada, santificante, solidária com o irmão.

Notas:

RANGEL, Paschoal. Sagrado Coração do Homem. Belo Horizonte: O Lutador, 1993.

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