sábado, 4 de junho de 2016

Coração de Jesus, Casa de Deus e Porta do Céu

Teve medo e disse: "Este lugar é terrível! Não é nada menos que uma casa de Deus e porta do Céu". (Gn 28,17) 
E lhe disse: "Em verdade, em verdade, vos digo: Vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem". (Jo 1,51)
Meditação de São João Paulo II:
Por meio do Coração Imaculado de Maria queremos nos dirigir ao Coração divino de seu Filho, ao Coração de Jesus, de Majestade Infinita! A infinita majestade de Deus está oculta no Coração humano do filho de Maria. Esse Coração é nossa Aliança. É o que há de mais próximo de Deus com relação aos corações humanos e à história humana. Ele é a maravilhosa “condescendência” de Deus: o coração humano que palpita de vida divina, a vida divina que palpita num coração humano. 
Na Santíssima Eucaristia descobrimos pelo “sentido da fé” o mesmo Coração: o Coração de majestade infinita, que continua a bates do amor humano do Cristo. Deus-Homem. O Santo Padre Pio X, antigo patriarca de Veneza, experimentou esse amor muito profundamente quando desejou que todos os cristãos, desde a infância, se aproximassem da Eucaristia, comungando, a fim de se unirem ao Coração que é para todos “Casa de Deus e Porta do Céu”: “casa” porque, pela comunhão eucarística, o Coração de Jesus abre sua morada a cada coração humano; “porta” porque em cada um desses corações humanos Ele abre a perspectiva da união eterna com a Santíssima Trindade. 
Mãe de Deus! Enquanto meditamos o mistério de tua Anunciação, aproxima de nós esse Coração divino, Coração de Majestade infinita, Casa de Deus e Porta do céu. Esse Coração que, desde o momento da anunciação do anjo, começou a pulsar junto de ter coração virginal e maternal.  (São João Paulo II – Angelus – 16 de junho de 1985)


Escreve o Padre Paschoal Rangel:
A expressão "casa de Deus e porta do Céu" é bíblica e litúrgica. Encontra-se no Gênese (28,17) e no texto da missa da dedicação das igrejas. Jacó, fora de casa, em busca de um casamento, tomado pelo sono e pela noite, adormece num lugar sagrado (onde Abraão havia erguido um altar - Gn 12,6-8). Adormece e sonha. Um sonho bom. Vê uma escada que se apóia na terra, mas cujo topo chega ao céu, e por ela sobem e descem anjos de Deus. De repente, o próprio Senhor,  em pé junto à escada, lhe fala, e faz promessas, e diz palavras de pai. Jacó acorda, olha para o chão, pensa na aparição divina e treme. Este lugar é santo, diz a si mesmo, e eu dormi aqui sem sequer prestar atenção. Teve medo, apesar das palavras de amizade e benção que ouvira em sonho. Resolve consagrar mais uma vez aquele lugar e Iahweh, faz uma libação de óleo, procura propiciar a divindade para não ser punido e exclama: "Deus está neste lugar e eu não sabia. Lugar terrível é este. Não é nada menos que a Casa de Deus e a Porta do Céu" (Gn 28,10-19). 
Casa de Deus é também a Igreja, não apenas a igreja feita de pedra ou madeira, mas de pedras vivas, dos corações dos que crêem e amam. Casa de Deus é sobretudo o próprio Cristo e, naturalmente, o Coração de Jesus. Casa de Deus - o que é isto? 
A casa é o lugar protegido, lugar de acolhimento e repouso, onde encontramos os nossos "amores", e família, o pai, a mãe, os filhos, o esposo, a esposa. Lugar de encontro, de conversa jogada fora, longa e amorosa; o adversário dificilmente penetra aí. Não é à toa que se diz do local onde nos sentimos bem: "Aqui me sinto em casa".Pois bem, Deus se compraz no Coração de Jesus. Foi Ele mesmo que o disse: "Este é o meu filho amado, no qual pus toda a minha complacência" (Lc 3,22). Aí, o Pai se sente em casa. Foi do agrado do Pai que nele habitasse toda a plenitude (Cl 1,19), o "pléroma" do ser, a divindade inteira, o imaginável e o inimaginável. Tudo no Cristo, em seu corpo (Cl 2,9), em seu divino Coração."Casa de Deus", o Coração de Jesus é também a Porta do Céu. "Que é uma porta?" - perguntava-se, num livro lindo, Alberto Wagner de Reyna. E respondia: "Limite entre o interior e o exterior, sentinela e defesa, recepção cordial e admoestração tácita. (...) A porta nos dá entrada, e, num gesto solene, nos desvela a amplidão interna da igreja: a perspectiva aumenta, o ambiente se amplia, o peito respira o frescor do santuário". Mas a porta é também espiritual: "por ela entramos no templo do nosso coração, no recolhimento; defendem-no do mundo as paredes de nossa vontade, como se fossem de pedra e cal". 
Jesus mesmo se comparou à Porta, por onde entramos e saímos, na presença do Pai (Jo 10,7-9). Quem passa por Ele, não é intruso nem ladrão. É de casa, faz parte da família. 
Fazei, Senhor, que moremos em vossa Casa, ó Deus, e por sua Porta entremos e saiamos como filhos muito amados. Casa e Porta, Coração de Jesus! (RANGEL, 1993)


Notas:

RANGEL, Paschoal. Sagrado Coração do Homem. Belo Horizonte: O Lutador, 1993.

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