sábado, 4 de junho de 2016

Coração de Jesus, de cuja Plenitude nós todos participamos

Pois de sua plenitude todos nós recebemos graça por graça. (Jo 1,16)
Meditação de São João Paulo II:
1. Reunidos para a recitação do Angelus, nós nos unimos a Maria no momento da Anunciação, quando o Verbo se fez carne e veio habitar perto de seu coração.
Unimo-nos, pois, ao Coração da Mãe, que depois do momento da concepção conheceu melhor o coração humano de seu divino Filho: "De sua plenitude todos nós recebemos graça por graça", escreveu o evangelista João (Jo 1,16). 

2. O que determina a plenitude do coração? Quando podemos dizer que o coração está pleno? De que está pleno o Coração de Jesus?Está pleno de amor. O amor determina essa plenitude do Coração do Filho de Deus, à qual nos referimos, hoje, em nossa oração.É um coração pleno de amor para com o Pai - divina e humanamente pleno. O Coração de Jesus é verdadeiramente o coração humano de Deus-Filho, pleno de amor filial. Tudo o que ele fez e disse na terra testemunha essa amor.
 

3. Ao mesmo tempo, o amor filial do Coração de Jesus revelou - e revela sem cessar ao mundo - o amor do Pai: "Sim, Deus amou tanto o mundo que lhe deu seu Filho único" (Jo 3,16) para a salvação do mundo, para a salvação do homem, "para que ele não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3,16).
O Coração de Jesus está repleto de amor para com o homem, para com a criatura; repleto de amor para com o mundo!
Essa plenitude jamais se extinguirá.
Quando a humanidade utiliza os recursos materiais da terra, do ar, da água, tais recursos diminuem, se exaurem.
A exploração acelerada de tais recursos como se faz hoje é tema de muitos debates. Daí a advertência: "Não exploremos além da medida".
Com o amor, é tudo ao contrário, especialmente com a plenitude do Coração de Jesus: não se exaure, nunca se esgotará.
Dessa plenitude todos nós recebemos, a graça sobre graça. Precisamos apenas alargar a dimensão de nosso Coração, nossa disponibilidade para desfrutar essa superabundância de amor.
 
É exatamente para isso que nos unimos ao Coração de Maria.(Angelus - 13 de julho de 1986)
Desde o início do seu Evangelho, diz o Padre Paschoal Rangel, São João nos ensina que Jesus "está cheio de graça e de verdade" (Jo 1,14).
Desde a Encarnação, mas sobretudo e de modo especialíssimo, a partir de Pentecostes, o Espírito Santo, Espírito de Cristo, faz transbordar sobre os homens a graça que plenifica a Jesus: "De sua plenitude todos nós recebemos" (Jo 1,16). 
Faz parte do plano de salvação do Pai que sejamos santificados pelo seu Filho feito homem e "mediador entre Deus e os homens" (1Tm 2,5). O Pai "nos elegeu nele (Cristo), antes da criação do mundo para sermos santos e imaculados em sua presença, no amor" (Ef 1,4). Guardemos isto: foi "nele" que Deus nos escolheu. Uma escolha gratuita, feita muito antes de existirmos: "antes da criação do mundo". Uma escolha que se originou, digamos assim, do amor que o Pai tinha a seu Filho que iria nascer, viver, morrer e ressuscitar por nós. Filho, no qual renasceríamos, reviveríamos, morreríamos e ressuscitaríamos, porque o sentido do que somos é estar com Cristo: "Vivo, mas não sou eu que vivo, é o Cristo que vive em mim" (Gl 2,20). 
Linda, a lição de Dom Marmion: "É em Cristo que (o Pai) nos escolheu. Tudo o que está fora de Cristo, não existe, por assim dizer, no pensamento divino: 'Eu sou a vida... E vim para que tenham a vida e a tenham em abundância' (Jo 10,10)". 
E porque é em Cristo e de Cristo que nos vêm todas as graças, e muito especialmente, aquilo que São Pedro chamou "participação na natureza divina" (2Pd 1,4), dizemos que a graça constitui uma "cristo-conformação". A teologia fala de "capitalidade", de graça crística, ou seja, que a graça que recebemos de Cristo, vem a nós enquanto somos "corpo místico" do Cristo "Cabeça". Em latim, "cabeça" é "cáput-cápitis". Daí se falar sem "graça capital". Graça capital é a graça de Cristo, enquanto ela vem de Cristo-Cabeça para a Igreja-Corpo, enquanto é graça redentora, enquanto opera em nós e nos cristifica. 
Deus quis assim. Bem que o Pai podia dar-nos sua graça diretamente sem Cristo. Mas o plano de salvação inclui a Encarnação e a consequente "mediação" de Jesus. Escreveu Charles Journet que Deus "depõe o princípio da graça no Coração de Jesus". E o próprio Jesus, um dia, se chamou "princípio": "Eu sou o princípio, que estou falando convosco" (Jo 8,25). É como se dissesse: "Eu sou a fonte primária de todo bem, de toda vida verdadeira, de toda graça".Tudo está concentradona humanidade de Cristo. Se quiserem falar simbolicamente, tudo está concentrado no Coração de Jesus. "E de sua plenitude todos nós recebemos, graça por graça" (Jo 1,16).


Notas:

RANGEL, Paschoal. Sagrado Coração do Homem. Belo Horizonte: O Lutador, 1993.

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