sábado, 4 de junho de 2016

Coração de Jesus, Alegria de Todos os Santos

Tu sabes bem, meu único martírio é teu amor, Sagrado Coração de Jesus. (Santa Teresinha do Menino Jesus)

"Coração de Jesus, Alegria de Todos os Santo; ou Delícias de Todos os Santos".


Alegremo-nos e exultemos, demos glória a Deus, porque estão para realizar-se as núpcias do Cordeiro, e sua esposa já está pronta. (Ap 19,7)
Meditação de São João Paulo II:
(Angelus - 12 de novembro de 1989)

1. Diante do espetáculo da "multidão imensa" que a liturgia nos convida a contemplar na solenidade de Todos os Santos, espetáculo tão exaltante, a invocação de ladainha vem espontaneamente ao espírito: "Coração de Jesus, alegria de todos os santos, tende piedade de nós".
Da esperança ao cumprimento, do desejo à realização, da terra ao céu, tal parece ser, caríssimos irmãos e irmãs, o ritmo segundo o qual se sucedem as três últimas invocações da ladainha do Sagrado Coração. Após as invocações "salvação dos que esperam em vós" e "esperança dos que morrem em vós", a ladainha conclui dirigindo-se ao Coração de Jesus como "alegria de todos os santos". É já uma visão do paraíso; um prelúdio rápido sobre a vida do céu; uma breve palavra dos horizontes infinitos da felicidade eterna.

2. O discípulo de Jesus vive, nesta terra, na expectativa de se reunir com seu mestre, no desejo de contemplar sua face, na aspiração vibrante de viver sempre com ele. No céu, pelo contrário, cessada a expectativa, o discípulo entra na alegria de seu Senhor (Mt 25,21-23), contempla a face do mestres, que não está transfigurado por breves momentos apenas (Mt 17,2; Mc 9,2; Lc 9,28), mas que resplandece pela eternidade do brilho da luz eterna (Hb 1,2). Vive com Jesus e da mesma vida que Jesus.
A vida do Céu é o gozo perfeito, indefectível, intenso do amor de Deus - Pai, Filho e Espírito Santo. É a revelação total do ser íntimo de Cristo, e a comunicação completa com a vida e o amor que nascem de seu Coração. No céu os bem-aventurados vêem satisfeitos todos os seus desejos, profecias, aspirações.

3. Eis por que o Coração de Cristo é a fonte da vida do amor dos santos. Em Cristo e por Cristo os bem-aventurados do céu são amados pelo Pai, que os une a ele pelo laço do Espírito Santo, divino Amor. Em Cristo e por Cristo eles amam o Pai e os homens, seus irmãos, com o amor do Espírito.
O Coração de Cristo é o espaço vital dos bem-aventurados, é o lugar em que permanecem no amor (Jo 15,9) e usufruem uma alegria eterna e sem limite. A sede infinita de amor, sede misteriosa que Deus colocou no coração humano, é saciada pelo Coração de Cristo.
Ali se manifesta plenamente o amor do Redentor para com os homens que necessitam da salvação, o amor do Mestre para com os discípulos, sedentos de verdade, o amor do Amigo que anula as distâncias e eleva os servidores à condição de amigos, para sempre, em tudo. O desejo intenso que se exprimia na terra pelo suspiro "Vem, Senhor Jesus" (Ap 22,20) transforma-se no céu em face-a-face, em posse tranquila, em fusão de vida, do Cristo nos bem-aventurados em Cristo!

Elevando para eles o olhar da alma, contemplando-os ao redor de Cristo e de sua Rainha, a Santíssima Virgem, repetimos hoje com firme esperança:


"Coração de Jesus, alegria de todos os santos, tende piedade de nós"

Santa Teresinha aos pés da Cruz



Escreve o Padre Paschoal Rangel:
Delícias - coisas que seduzem, alegram, levam à imitação, a amar em troca. O amor de Cristo, manifestado nesse Coração que a lança "abriu" para deixar sair o que nele havia de mais profundo, não pode deixar de arrastar à solidariedade, à reciprocidade todos aqueles que prestem atenção delicada no que Ele é e no que Ele fez por nós. 
O belíssimo Hino do Ofício das Leituras da Solenidade do Coração de Jesus traz estes versos emocionados: "Quem não dará amor em troca a esse amante? E quem - remido - o deixará de amar?". Outros dois versos do Ofício, agora nas Primeiras Vésperas: "Coagiu-Te teu amor a tomar corpo mortal...".Quando a gente pensa que isto foi inteiramente gratuito; que Deus não precisava de fazer nada dessas coisas para ser feliz; que ser homem e conviver nesta terra dos homens com a indignidade, a pobreza, o cansaço, a dor (claro que com a beleza, a suavidade, o amor, as delicadezas, as manhãs de abril, os lírios do campo, as aves do céu...) mas com tanta coisa ruim também; quando se pensa que tudo foi absolutamente por querer, por nos amar e mostrar que amava, a gente fica boquiaberto. Qualquer um, ainda que apenas levemente mercenário, teria perguntado se era um bom negócio. Mas o amor - se me permitirem esse atrevimento - cega o próprio Deus. Ele amava. Pronto. E caonteceu o que aconteceu: "o Verbo se fez carne e veio habitar entre os homens". Não foi em troca de nosso amor, porque "ele nos amou primeiro" (1Jo 4,10,19). 
Os seus não o receberam, não prestaram atenção na luz, preferiram caminhar na treva. Mas aqueles que o quiseram acolher, esses se tornaram filhos de Deus, tornaram-se "luz no Senhor". Este são os "santos". Os "encantados". Os exultantes de alegria: "Exultarão os meus lábios ao cantar para Ti Senhor" (Sl 70,23). Nem os sofrimentos, nem as perseguições, nem as incompreensões podem secar esse júbilo interior: "As águas muitas não puderam extinguir o amor" (Ct 8,7). A vida dos santos contam coisas aparentemente exóticas, incompreensíveis a nós, homens frios e não apaixonados, mas coisas perfeitamente dentro da lógica do amor "cuja medida é amar sem medida". 
São Francisco de Assis caminhava enleado, cantando louvores a Deus pelas estradas: "O Amor não é amado! O Amor não é amado!" Santa Madalena de Pazzi percorria os claustros do convento a gritar: "Ó Amor! Ó Amor!"; Santa Teresa vibrava inteira quando ouvia as palavras do Credo: "E o teu Reino não terá fim". E dizia: "Morro de não morrer!" Sofrimentos não lhe faltam, a Madre fundadora de tantos Carmelos, mas ela diz: "A única coisa que não me sinto capaz de suportar, Senhor, é não ter certeza de Vos amar...". Santa Catarina de Gênova tão encantada estava com o amor de Jesus que escreveu: '"Se uma gota ao menos daquilo que sente um coração amoroso de Deus, caísse no inferno, os demônios se tornariam anjos; pois onde entre um pouco de amor de Deus, não pode haver nem pena, nem mal". 
Era assim que, para os santos, esses "endeusados", o Coração de Jesus é júbilo sem fim, delícias que nunca passarão. É um pouco assim que nós, desejaríamos que o Sagrado Coração do Homem (Cristo Jesus), penetrando no humilde coração da terra e dos homens, nos fizesse viver também.


Notas:

RANGEL, Paschoal. Sagrado Coração do Homem. Belo Horizonte: O Lutador, 1993.

Nenhum comentário:

Postar um comentário