O anjo lhe respondeu: "O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra. por isso o Santo que nascer setá chamado Filho de Deus". (Lc 1,35)
Todas as Bênçãos que, do Céu, a Devoção ao Sagrado Coração de Jesus derrama sobre as almas dos Fiéis, purificando-os, trazendo-lhes uma grata consolação celeste e exortando-os a alcançar todas as virtudes, são verdadeiramente inumeráveis. (Papa Pio XII)Na alocução do Angelus, em 27 de Junho de 1982, São João Paulo II proferiu as seguintes palavras referentes a esta invocação da Ladainha:
1. "Coração de Jesus formado pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria, tende piedade de nós".Assim rezamos na ladainha do Sacratíssimo Coração de Jesus.Esta invocação refere-se diretamente ao ministério que meditamos recitando o Angelus Domini: por .obra do Espírito Santo foi formada no seio da Virgem de Nazaré a Humanidade de Cristo, Filho do Eterno Pai. Por obra do Espírito Santo foi formado nesta Humanidade o Coração! O Coração, que é o órgão central do organismo humano de Cristo e, ao mesmo tempo, o verdadeiro símbolo da sua vida interior: do pensamento, da vontade, dos sentimentos. Mediante este Coração a Humanidade de Cristo é, de modo particular, "o templo de Deus" e contemporaneamente, mediante este Coração, ela permanece sem cessar aberta para o homem e para tudo o que é "humano": "Coração de Jesus, de cuja plenitude nós todos recebemos".
2. O mês de Junho é, de modo particular, dedicado à devoção ao Coração Divino. Não apenas um dia, a festa litúrgica celebrada em Junho, mas todos os dias. Com isto se coliga a devota prática de recitar ou cantar cada dia a ladainha do Sacratíssimo Coração de Jesus.É a maravilhosa oração, de modo integral centralizada no mistério interior de Cristo: Deus-Homem. A ladainha do Coração de Jesus atinge abundantemente as fontes bíblicas e, ao mesmo tempo, reflete as mais profundas experiências dos corações humanos. É também prece de devoção e de autêntico diálogo. Nela falamos do coração e, ao mesmo tempo, permitimos aos corações falarem com este único Coração, que é "fonte de vida e de santidade" e "desejo das colinas eternas". Com o Coração que é "paciente e de grande misericórdia" e "generoso para com todos os que O invocam".Esta oração, recitada e meditada, torna-se uma verdadeira escola do homem interior: a escola do cristão.
3. A solenidade do Sacratíssimo Coração de Jesus recorda-nos sobretudo os momentos em que este Coração foi "trespassado pela lança" e, mediante isto, aberto de modo "visível" para o homem e para o mundo. Ao recitarmos a ladainha — e em geral venerando o Coração Divino — aprendemos o mistério da Redenção em toda a sua divina e também humana profundidade.Contemporaneamente, tornamo-nos sensíveis à necessidade de Reparação. Cristo abre-nos o seu Coração para que na sua reparação nos unamos com Ele para a salvação do mundo. O falar do Coração trespassado evidencia toda a verdade do seu Evangelho e da Páscoa. Procuremos compreender sempre melhor este falar. Aprendamo-lo.Em outra oportunidade, o mesmo Santo Padre retomou a reflexão sobre esta invocação:
No dia 2 de junho, há exatamente um mês, celebramos a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Desejo retomar convosco a meditação sobre as riquezas desse Coração divino, continuando a reflexão, já começada, sobre a ladainha que se lhe dedica.Uma das invocações mais profundas dessa ladainha diz: “Coração de Jesus, formado pelo Espírito Santo no seio da Virgem Mãe, tem piedade de nós”.Encontramos aí o eco de um artigo central do Credo, no qual professamos nossa fé em “Jesus Cristo, Filho único de Deus, que desceu do Céu e pela ação do Espírito Santo se encarnou no seio da Virgem Maria fazendo-se homem”. A santa humanidade de Cristo é, pois, obra do Espírito Santo divino e da Virgem de Nazaré.
É obra do Espírito. Mateus explicitamente o afirma, reportando-se às palavras do anjo a José: “O que nela foi engendrado vem do Espírito Santo” (Mt 1,20). E Lucas também o afirma, referindo-se às palavras de Gabriel a Maria: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra” (Lc 1,35). O Espírito formou a sagrada humanidade de Cristo: seu corpo e sua alma com inteligência, vontade, capacidade de amar. Numa palavra, formou seu Coração. A vida de Cristo foi totalmente colocada sob o signo do Espírito. Dele lhe vem a sabedoria que enche de admiração os doutores da lei e seus concidadãos, o amor que acolhe e perdoa os pecadores, que se inclina sobre a miséria, a ternura que abençoa e abraça as crianças, a compreensão que alivia a dor dos aflitos. É o Espírito que dirige os passos de Jesus, que o guia no caminho para Jerusalém onde ele oferecerá o sacrifício da Nova Aliança, graças ao qual se espalhará o fogo que ele trouxe à terra (Lc 12,49). Por outro lado, a humanidade de Cristo é igualmente obra da Virgem. O Espírito formou o coração de Jesus no seio de Maria, que colaborou ativamente com ele como mãe e educadora.- Como mãe, aderiu, consciente e livremente, ao projeto salvífico de Deus Pai, acompanhando, em silêncio e adoração, o mistério da vida que nela germinara e se desenvolvia.- Como educadora, formou o coração de seu filho iniciando-o com São José, nas tradições do povo eleito, inspirando-lhe o amor pela lei do Senhor, comunicando-lhe a espiritualidade dos “pobres do Senhor”. Ajudou-o a desenvolver sua inteligência e exerceu uma influência segura na formação de seu caráter. Apesar de saber que o filho a transcendia, porque “Filho do Altíssimo” (Lc 1,32), nem por isso foi menos atenta à sua educação humana (Lc 2,51).
Podemos afirmar com segurança: no Coração de Jesus resplandece a obra admirável do Espírito Santo; nele se encontram, também, os reflexos do coração de sua mãe. Que o coração de cada cristão seja como o Coração de Cristo, dócil à ação do Espírito e à voz da Mãe.(São João Paulo II – Angelus – 2 de julho de 1985)
O Padre Paschoal Rangel (1993), diz-nos que esta invocação nos coloca em face do "grande mistério que envolve a vida e a personalidade de Jesus Cristo: o seu "teandrismo" (1), isto é, sua particularíssima propriedade de ser, ao mesmo tempo, Deus e homem. Inteiramente homem; inteiramente Deus".
Isto cria para nossa lógica, para nosso discurso racional, dificuldades só superáveis na lógica da fé. O mistério de Cristo, que se expressa na Ladainha, quando se afirma que ele foi formado pelo Espírito Santo ( e, com isso, anuncia-se sua divindade), no seio da Virgem-Mãe (apontando-se aí para sua humanidade, embora se trate de uma humanidade muito especial, já que sua Mãe seria mãe sem deixar de ser virgem, mas também sem deixar de ser mulher, gente de terra, com corpo, sangue, alma, psiquismo: humanidade).
O anjo diz a Maria: "O Espírito Santo descerá sobre ti (o verbo grego inclui um "vir do alto") e a força do Altíssimo te cobrirá com sua sombra" (Lc 1,35). Também aqui, a indicação de uma sombre que vem de cima, "episkiasei", como as sombras que vêm das nuvens, "descem" sobre nós e nos protegem do calor, do cansaço; melhor ainda, como aquela sombra de Javé que cobria o Tabernáculo ou a tenda, onde Moisés recebia as grandes inspirações divinas.
É o Espírito Santo que vem formar Jesus no seio de Maria: "É o Espírito", escreve o Pe Congar, "que, atualizando (isto é, levando da potência ao ato) em Maria sua capacidade feminina de conceber (e, portanto, suprindo os 23 cromossomos masculinos) suscita o ser humano que o Verbo-Filho une a si, e, por este ato mesmo, o faz "santo". De forma que Jesus é Emanuel, Deus conosco, porque ele é (concebido) do Espírito Santo. Tal é, dito dogmática e teologicamente, o sentido de Lc 1,35".Isto faz do Espírito, de modo muito especial, o Espírito de Jesus. Realiza-se uma intimidade total entre Jesus e o Espírito Santo. Toda a vida de Jesus, tudo o que constitui o seu "coração", ele o faz no Espírito Santo. É assim que se pode dizer que o Espírito habita o Coração de Jesus e o santifica e diviniza. Até porque a atuação do Espírito na concepção e formação de Jesus, não se limita à formação de seu corpo ou de sua alma, como se se tratasse de um ato instantâneo, "pontual" (isto é, como se fosse um ponto, um momento criador definido, acabado de uma vez por todas); mas é, de fato, um processo, no qual o Cristo, totalmente Deus desde o primeiríssimo momento, misteriosamente se formava, "crescia em idade, sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens" (Lc 2,52). Esse crescimento de Jesus é certamente uma das consequência misteriosas de seu teandrismo, uma das questões mais espinhosas e delicadas da teologia, que não consegue tirar a limpo, de forma satisfatória, como é que um Deus verdadeiro podia crescer em graça e conhecimento, mesmo sabendo-se que ele é verdadeiro homem.
De qualquer maneira, nesse divino trabalho no "coração", isto é, na intimidade mais íntima de Jesus, agia sem cessar o Espírito Santo. E se isto fazia de Jesus uma viva imagem do Espírito de Deus, também fazia do Espírito, cada vez mais, uma "imagem" viva de Jesus, numa admirável troca (oh! admirabile commercium!) de amor e santidade, pois afinal, aquele Jesus, por mais que fosse homem, era principalmente o Verbo divino, do qual procede o divino Espírito. E a troca se fazia também entre iguais.É o que dá razão a Dom Vonier, quando escreve: "É o que desceu de forma visível à terra, veio, podemos dizer, com todo o aroma da Encarnação em suas asas".
Um católico nunca faria a famosa pergunta de Lutero: "Cristo tem duas naturezas. Em que é que isto me interessaria". Por que isto me interessaria?
A questão central para o homem que quer viver o cristianismo, é qual o papel da pessoa humana na obra da justificação.
Ora, se Jesus não é verdadeiramente homem ou se sua humanidade não entra para nada em nossa salvação; se toda a obra de nossa justificação é exclusivamente opus Dei, obra de Deus; se a salvação consiste apenas em a divindade, em jesus, assumir a natureza humana, no sentido de tomar sobre si nossa fraqueza, nosso pecados e "trocá-los" pela sua santidade, sua "justiça" (e é só nisso que está o "admirabile commercium", a maravilhosa troca, a transcendental permuta entre Deus e o homem); se o homem não pode cooperar na sua salvação e na dos seus irmãos, pois tudo aí, até o desejar, o querer, o menor movimento de bondade depende exclusivamente de Deus; então, na verdade, não interessa saber se Cristo tem duas naturezas ou não (embora não se negue nada da fórmula dogmática), pois a humanidade (mesmo a de Cristo) não teria nenhum papel na economia da salvação.
A posição católica é inteiramente outra. A gente não reafirma o dogma do Concílio de Calcedônia (Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem) de modo meramente abstrato, nocional. Ser homem, para Jesus, é condição fundamental para ele participar da família humana e fazer-nos capazes de, "nele e por ele", tomar parte efetiva na obra redentora. Por ser homem de verdade, cria condições de solidariedade do homem com ele, com Deus, com os outros. Jesus não morre "em nosso lugar", como um substituto nosso, mas como "cabeça" de uma nova humanidade (novo Adão). E esta humanidade nova, re-criada em Cristo, renasce nele, está nele. Assim, nós somos chamados por Deus a "tomar parte" na salvação. Ninguém pode eximir-nos disso. "A oblação de Cristo, na Cruz, cria a solidariedade dos homens na presença de Deus. Ele se oferece como cabeça, com vistar a formar seu corpo, que é a Igreja. Sua oblação tornou possível a nossa, em união com a sua".
Essa solidariedade, porém, vem da humanidade real de Cristo e nela é que se realiza. Há uma espécie de monofisismo (2) na doutrina luterana da justificação, que a compreensão de que o Coração de Jesus, formado, sem dúvida, pelo Espírito Santo, o foi entretanto "no seio da Virgem Mãe, pode mudar. A compreensão de que fomos salvos por um Deus que tilha um "coração de carne", "factum ex muliere", feito de uma mulher, como frisa São Paulo aos Gálatas (4,4), e de que ser feito de uma mulher não é indiferente para o "modo" como Deus opera a nossa salvação em Jesus e através dele; a compreensão de que o homem em Cristo e por Cristo, foi recuperado, elevado, realmente santificado por dentro e não apenas justificado por uma "troca maravilhosa" de condição, com Cristo, porque este carregou nossos pecados: - essa compreensão muda tudo em nosso relacionamento com Deus, dá outro sentido à vida do homem. Por isto, interessa, sim, e muito, que Jesus tenha sido formado pelo Espírito Santo, "no seio da Virgem Mãe". E tenha duas naturezas.
No Seio da Virgem-Mãe, ou seja, a Marianidade de Jesus
Formado no seio da Virgem Maria, Jesus é verdadeiramente homem!!!Certamente que ter sido gerado por Maria, ter vivido com ela uma admirável, uma admirabilíssima intimidade de nove meses foi a realização da comunhão de vida e amor tão funda, tão funda, que é inimaginável o que aconteceu no coração, na alma de Maria, naquela continuada transformação cristificadora, que não pôde não ter existido. O Pe Julio Maria de Lombaerde, num dos seus melhores livros, "Princípios da Vida de Intimidade com Maria Santíssima", num arroubo místico, descreve as maravilhas dessa comunhão prolongada com aquilo que o teólogo Schillebeeckx chamou de "recepção corporal do sacramento original: a santa humanidade do Cristo Jesus".Mas o de quase ninguém fala, é do outro lado dessa comunhão: ela não foi apenas a livre aceitação de cristo por parte de Maria e a progressiva configuração dela com ele; foi igualmente a linda e admirável configuração de Cristo com Maria. Ele também comungava Maria, ele também recebia física, psíquica e espiritualmente Maria e se marianizava. Assim como se costuma dizer: "Vejam como eles se amam!", ou; "Vejam como eles se parecem!", ou ainda: "Olha só, a cara da mãe!" - assim essa Mãe especial imprimiu misteriosamente sua imagem, sua maneira de ser em Jesus, e não só durante os meses de comunhão intra-uterina, mas depois do nascimento, nos anos de infância e, mais tarde, quando Jesus era jovem ou homem feito. Uma comunhão em todos os sentidos, mas sobretudo uma comunhão mística e amorosa.Assim como o fiat de Jesus, no primeiríssimo momento de sua vida humana (Hb 10,5-7), orientou e deu sentido a todas as suas ações de homem com uma missão redentora, assim o fiat de Maria a tornava permanentemente receptiva da vontade de Deus e capaz de viver ativamente sua missão materna amplíssima (maternidade divina e maternidade espiritual). Isto significava uma continuada ação geradora, maternal, sobre seu Filho, assim como sobre seus filhos espirituais [todos nós]. Certamente, não nos compete ficar imaginando o como dessas coisas, "que o Pai reservou a seu poder" (At 1,7). Mas Jesus era e não podia deixar de ser o filho de Maria, tinha os jeitos de Maria. E se a graça que dele recebemos, é uma graça crística e, mercê de Deus, nos torna cristiformes, ela é, ao mesmo tempo, uma graça que nos configura a Maria, já que "Jesus é a cara dela". "Quem vê Jesus, vê Maria" - dizia São João Eudes. E não só nem principalmente no corpo. Jesus carrega em si algo de maternal, de virginal, de "servo" de Deus, de homem do "fiat", daquele que fez sempre a vontade do Pai que o enviou, do "obediente" no sentido mais completo da palavra, do destinado à redenção. O "gládio" que traspassaria o coração da Mãe, traspassava igualmente o coração do Filho. E se é verdade que Maria é tudo isso porque comungava os sentimentos e as intenções de Jesus, é também verdade que Jesus, fazendo a vontade do Pai e realizando sua missão, foi aprendendo a ser o que era, de um modo misteriosamente marial.É tudo isso que endendemos ao dizer que o Coração de Jesus foi formado "no seio da Virgem Mãe".
Anjo do Senhor - Oração do Angelus ( Hora da Ave Maria )
V. O Anjo do Senhor anunciou a Maria.
R. E Ela concebeu do Espírito Santo.
- Ave Maria cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois Vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do Vosso ventre, Jesus.
- Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém.
V. Eis aqui a escrava do Senhor.
R. Faça-se em Mim segundo a Vossa palavra.
- Ave Maria…
V. E o Verbo divino se fez carne.
R. E habitou entre nós.
- Ave Maria…
V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
V. Oremos.
Infundi, Senhor, como Vos pedimos, a Vossa graça nas nossas almas, para que nós, que pela Anunciação do Anjo conhecemos a Encarnação de Jesus Cristo, Vosso Filho, pela Sua Paixão e Morte na Cruz, sejamos conduzidos à glória da ressurreição. Por Nosso Senhor Jesus Cristo Vosso Filho que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
R. Amém.
V. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo,
R. Assim como era no princípio, agora e sempre, por todos os séculos dos séculos. Amém. (3x)
Notas:
1 - Teândrico é um termo formado de "Theós" (Deus) e "anér, andrós" (homem)
2 - Monofisismo - é uma doutrina, segundo a qual, Jesus só tem, de verdade, uma (monos) natureza (physis). E esta é a natureza teândrica, em que a humanidade estaria absorvida na divindade e a natureza humana de Cristo seria mais aparente que real. [há nuances]. Quando falamos de "uma espécie de monofisismo" em Lutero, é mais no sentido de uma "tendência" de diminuir a importância prática, salvífica, da realidade da natureza humana de Cristo.
RANGEL, Paschoal. Sagrado Coração do Homem. Belo Horizonte: O Lutador, 1993.
Nenhum comentário:
Postar um comentário