sábado, 4 de junho de 2016

Coração de Jesus, Fonte de Toda Consolação

Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de toda consolação. (2Cor 1,3)
A palavra bíblica que, espontaneamente, ocorre ao ouvir esta invocação, é aquela mesma que inicia uma das mais belas encíclicas papais: "Haurietis aquas in gaudio de fontibus Salvatoris", ou seja: "Alegremente, tirareis água das fontes do Salvador" (Hautietis Aquas), escreve o Padre Paschoal Rangel (1993).
O Profeta Isaías prenuncia a abundância das graças que jorrariam do coração de Cristo, como de uma e muitas fontes, para a humanidade toda, especialmente para o Povo de Deus (Is 12,3). 
Toda a grande tradição patrística e espiritual do cristianismo viu no lado de Cristo crucificado, aberto pela lança do soldado romano, o símbolo de uma fonte de salvação. Quando, traspassado, dele escorria sangue e água, o coração se transformava em fonte de todos os bens sacramentais, especialmente do batismo, da penitência purificadora e da eucaristia, alimento da santidade. O próprio Jesus havia profetizado solenemente no Templo: "Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim, de seu seio, como diz a Escritura, manarão rios de água viva". E São João explica logo em seguida, que "Ele falava do Espírito que haveriam de receber aqueles que nele cressem" (Jo 7,37-39). 
Jesus é uma fonte, são fontes de graças inumeráveis. Na Ladainha, diz-se que é fonte de toda consolação. A consolação é também uma graça. E pode ser uma enorme graça, se estamos à beira do desespero, da depressão, no meio de um estágio de aridez espiritual, sacudidos por tentações e submetidos a duras provas por parte de Deus. Quando parece que tudo está perdido, que as forças da gente se acabaram, misteriosa e imprevistamente, uma luz, uma força, um sinal de que Deus está presente nos ressuscita, nos sustenta. É o apoio necessário e, ao menos na medida exata do indispensável, nos ajuda a recomeçar ou a continuar, dolorosamente embora. 
São Paulo diz aos coríntios que nosso Deus é "o Pai das misericórdias e o Deus de toda consolação" (2Cor 1,3). O Apóstolo experimentou como ninguém essa força consoladora... que o reencorajava no meio de incríveis tribulações. 
Para nós, hoje, como para os cristãos de todos os tempos, o Coração de Jesus, aberto por nós na Cruz, continua sendo "fonte de toda consolação". Um apoio forte, uma graça sobrenatural, uma certeza de que Ele está conosco. Afinal, con-solação é ter companhia na solidão.
Meditação de São João Paulo II:

1. Deus criador do céu e da terra, é também o "Deus de toda consolação" (2Cor 1,3; Rm 15,5). Numerosas páginas do Antigo Testamento mostram-nos que, em sua ternura e compaixão, o Senhor consola seu povo na hora da aflição. Para consolar Jerusalém, destruída e derrotada, ele convida seus profetas a das uma mensagem de consolação: "Consolai, consolai meu povo (...) Falai ao coração de Jerusalém e gritai-lhe: terminou vosso serviço" (Is 40,1-2). E dirigindo-se a Israel, oprimido pelo medo dos inimigos, declara: "Eu, eu sou teu consolador" (Is 51,12). E ainda, comparando-se à mãe cheia de ternura para com seus filhos, manifesta sua vontade de trazer a paz, a alegria e o reconforto a Jerusalém: "Regozijai-vos, Jerusalém, e exultai por ela, vós todos que a amais (...) e sereis aleitados e saciados por seu seio de consolação. (...) Como um filho que sua mãe consola, eu também vos consolarei, em Jerusalém vós sereis consolados" (Is 66, 10-13).

2.  Em Jesus - verdadeiro Deus e verdadeiro homem, nosso irmão - o "Deus que consola" tornou-se presente no meio de nós. É o que indica Simeão, o justo, que teve a consolação de acolher em seus braços o menino Jesus e de ver nele realizada "a consolação de Israel" (Lc 2,25). E em toda a vida de Cristo a pregação do Reino foi um ministério de consolação: o anúncio de uma feliz mensagem aos pobres, a proclamação de liberdade para os oprimidos, cura para os doentes, graça e salvação para todos (Lc 4,16-21; Is 61,1-2).
Do Coração de Jesus, nasce esta bem-aventurança reconfortante: "Felizes os aflitos, porque serão consolados" (Mt 5,5). Também o convite gratificante: "Vinde a mim, vós que estais oprimidos de trabalhos, e eu vos aliviarei" (Mt 11,28).
A consolação que provinha do Coração de Jesus era a partilha do sofrimento humano; a vontade de acalmar a angústia e aliviar a tristeza. um sinal concreto de amizade. Em suas palavras e em seus gestos de consolação conjugam-se admiravelmente a riqueza dos sentimentos e da eficácia da ação. Quando, perto da porta da cidade de Naim, vê uma viúva que conduzia seu filho único ao sepulcro, Jesus partilhou sua dor: "Ele teve compaixão" (Lc 7,13); tocou o féretro, ordenou ao jovem que se levantasse e o devolver a sua mãe (Lc 7,14-15).

3. O Coração do Salvador é ainda, ou melhor, é em sua essência, "fonte de consolação". "Eu pedirei ao Pai e ele vos dará outro paráclito para estar sempre convosco" (Jo 14,16): Espírito de verdade e de paz, de concórdia e de suavidade, de reconforto e de consolação; Espírito que nasce da páscoa do Cristo (Jo 19,28-34) e do acontecimento de Pentecostes (At 2,1-13).

4. Toda a vida de Cristo foi, pois, um ministério contínuo de misericórdia e de consolação. Contemplando o Coração de Jesus e as fontes de graça e de consolação que dele jorram, a Igreja exprimiu essa maravilhosa realidade por meio desta invocação: "Coração de Jesus, fonte de toda consolação, tende piedade de nós".
- Essa invocação recorda-nos a fonte em que, ao longo dos séculos, a Igreja hauriu a consolação e a esperança na hora da prova e da perseguição.
- Convida-nos a procurar no Coração de Cristo a consolação verdadeira, durável e eficaz.
- Exorta-nos a que, após experimentar a consolação do Senhor, nos tornemos também mensageiros dela convictos e comovidos, fazendo nossa a experiência espiritual que levou o apóstolo Paulo a dizer: o Senhor "nos consola em todas as nossas aflições, a fim de que pela consolação que recebemos de Deus possamos consolar os outros em toda e qualquer aflição" (2Cor 1,4).

Peçamos a Maria, consoladora dos aflitos, que nos momentos sombrios de tristeza e de angústia ela nos conduza a Jesus, seu filho bem-amado, "fonte de toda consolação".
(Angelus - 13 de agosto de 1989)


Notas:

RANGEL, Paschoal. Sagrado Coração do Homem. Belo Horizonte: O Lutador, 1993.

Nenhum comentário:

Postar um comentário